

Se você sente que suas histórias têm cenas interessantes, mas ainda assim falta algo… talvez o problema esteja na forma como você está escrevendo. Roteiristas como Robert McKee e John Truby ensinam um princípio essencial que pode transformar sua narrativa: a escrita de dentro para fora. Neste post, você vai entender exatamente o que isso significa, como aplicar, e por que é o caminho mais direto para escrever uma boa história.
O que significa escrever de dentro para fora?
Escrever de dentro para fora é partir do interior do personagem para construir a história. Em vez de começar com uma sequência de acontecimentos (“cena A leva à cena B”), você parte de:
- O que o personagem deseja profundamente?
- Do que ele tem medo?
- Que ferida emocional ele carrega?
- Que mudança ele precisa viver para superar esse conflito?
Essas perguntas criam uma base emocional que dá sentido a cada cena. Ações isoladas não bastam. O que nos conecta às histórias é ver como os personagens mudam, crescem, se quebram e se reconstroem.
Woody em Toy Story
Woody não quer só ser o brinquedo favorito. Ele quer continuar sendo amado. Quando Buzz aparece, ele se sente ameaçado e entra em desespero. No final, ele percebe que pode ser amado mesmo dividindo esse espaço. Essa é a jornada interna que dá sentido à sua jornada externa.
Se fosse escrito de fora para dentro, ele pareceria apenas ciumento e egoísta.
Peter Parker em Homem-Aranha 2 (2004)
Peter não luta apenas contra o Dr. Octopus. Ele está tentando conciliar o peso de ser herói com o desejo de ser apenas um jovem normal. Seu dilema é emocional: abrir mão de seus sonhos pessoais ou seguir seu dever? A emoção interna é o que sustenta as ações externas.
Elizabeth Bennet em Orgulho e Preconceito
Elizabeth é espirituosa e decidida. Mas sua jornada emocional é sobre superar o preconceito e a vaidade. Ela aprende a olhar além das aparências. Esse crescimento interno dá profundidade ao romance com Mr. Darcy. A história funciona porque ela muda por dentro.
Marlin em Procurando Nemo
Marlin é um pai superprotetor. A busca por seu filho é, na verdade, a jornada de aprender a confiar, a deixar ir, a permitir que o filho cresça. O medo da perda está no centro da sua transformação.
Nina em Cisne Negro
Nina não está apenas lutando por um papel. Ela está lutando contra a repressão emocional e o perfeccionismo que sufocam sua espontaneidade. Sua transformação é intensa, emocional e, no fim, trágica.
Entre na pele do personagem
Para aplicar essa técnica, tente o seguinte:
- Escreva uma cena comum, como uma discussão entre dois amigos.
- Antes de escrever os diálogos, responda:
- O que cada um quer realmente nessa conversa?
- O que eles não estão dizendo?
- Que medo ou insegurança está guiando o tom da conversa?
- Agora reescreva a cena deixando essas emoções transparecerem nas entrelinhas.
Faça isso com uma cena por dia. Quanto mais praticar, mais natural será escrever de dentro para fora.
Erros comuns ao escrever de fora para dentro
- Criar personagens que só reagem a eventos sem nenhum conflito interno.
- Usar diálogos expositivos que não revelam emoções reais.
- Planejar cenas com base apenas na lógica externa da trama, e não na jornada emocional do personagem.
- Resolver conflitos de forma superficial, sem uma transformação verdadeira.
Como escrever uma boa história com tramas que nascem da alma
Robert McKee diz que toda boa história é sobre mudança. Não de lugar ou de situação, mas de percepção. E John Truby reforça: o personagem precisa passar por um arco de transformação que começa na fraqueza interna.
Escrevendo de dentro para fora, você consegue:
- Criar empatia imediata com o leitor
- Construir cenas que fazem sentido emocional
- Gerar reviravoltas que importam
- Finalizar sua história com um impacto real
Além disso, você vai se sentir mais conectado com a sua própria escrita. Vai parar de se perguntar “o que vai acontecer agora?” e começar a se perguntar “o que o personagem está sentindo agora?”.
Checklist: antes de escrever sua próxima cena
Use esse checklist para manter sua escrita emocionalmente coerente:
- Qual é o conflito emocional do personagem aqui? – Exemplo: medo de abandono, culpa, desejo de aceitação, etc.
- O que o personagem quer nesta cena? – Não o que ele faz, mas o que ele deseja alcançar emocionalmente.
- O que o impede de conseguir isso? – Pode ser algo externo (um obstáculo físico) ou interno (um medo ou crença limitante).
- Qual ferida emocional está guiando suas ações? – Uma perda passada, uma insegurança, um trauma.
- O que ele ganha ou perde emocionalmente nesta cena? – Pense em termos de crescimento, frustração, revelação.
- Há uma mudança entre o início e o fim da cena? – Mesmo que sutil, precisa haver alguma evolução ou regressão.
- O leitor vai sentir algo com essa transformação? – Se a cena não causa empatia, talvez falte clareza emocional.
Conclusão: como escrever uma boa história de verdade
Quando você aprende como escrever uma boa história de dentro para fora, você para de montar cenas soltas e começa a construir uma jornada que tem alma, que emociona, que marca.
Não é sobre “o que acontece”. É sobre “o que isso significa para o personagem”.
Histórias boas não são uma coleção de eventos. São reflexos de emoções humanas.
Se você quer emocionar, comece escrevendo da emoção.
E agora que você já sabe como escrever uma boa história, que tal aplicar essa técnica em sua próxima cena? Mas, não vai esquecer da outline, em?
Continue lendo. Continue estudando. Continue escrevendo. Seu melhor texto ainda está por vir