
Por que verbos fortes fazem toda a diferença em um roteiro?
Imagine o seguinte: você é um estudante de roteiro e, empolgado com sua jornada, começa a ler roteiros profissionais. Aos poucos, algo chama sua atenção. Não é apenas o diálogo. Nem são apenas os personagens marcantes. É o ritmo. A fluidez. E principalmente: os verbos. A cada cena, você percebe que os roteiristas não estão ali escrevendo como num romance. Eles estão pintando imagens na sua mente. E fazem isso com um recurso poderoso: verbos fortes para roteiro.
Mas por quê isso é tão importante?
O que Robert McKee tem a dizer sobre isso
No clássico livro Story, Robert McKee enfatiza que o roteiro é uma forma audiovisual de contar histórias. E dentro desse conceito, a palavra-chave é “visual”. O cinema é a arte de mostrar, não contar.
Para isso, precisamos fugir de descrições abstratas ou subjetivas como:
- “Ele está nervoso”
- “Ela é uma pessoa intensa”
- “O ambiente é sombrio”
Essas frases não nos mostram nada. Elas apenas nos contam algo.
Agora veja a diferença:
- “Ele treme. Seus olhos piscam rápido. Gira a caneta entre os dedos.”
- “Ela explode: bate a mão na mesa, os olhos faiscando.”
- “A lâmpada oscila. As sombras dançam nas paredes molhadas.”
Essas cenas não apenas informam, elas criam imagens. E o que faz isso acontecer? Verbos fortes.
Como escolher verbos fortes para roteiro
Um bom verbo forte é aquele que:
- Cria uma imagem clara, rápida e específica na mente do leitor;
- Não precisa ser acompanhado de muitos adjetivos ou advérbios;
- Está no infinitivo presente (sem conjugação), o que facilita a leitura direta e visual.
Veja alguns exemplos de verbos fracos e como substituí-los:
- Fraco: “anda lentamente”
- Forte: “caminha”, “arrasta os pés”, “marcha”
- Fraco: “fica com raiva”
- Forte: “explode”, “rosna”, “fuzila com o olhar”
- Fraco: “olha para ela com carinho”
- Forte: “acaricia com os olhos”, “sorri de leve”, “inclina a cabeça”
Dica fundamental: evite conjugações como “estava andando” ou “começa a olhar”. Prefira a ação direta: “anda”, “olha”.
Exemplos reais de verbos fortes em roteiros famosos
1. Roteiro de “Whiplash” (2014):
ANDREW SENTADO a bateria. As baquetas martelam os tambores.

2. Roteiro de “Cisne Negro” (2010):
Nina dança. Gira. Tropeça. Se recompõe. Os olhos brilham.
3. Roteiro de “O Cavaleiro das Trevas” (2008):
O Coringa lambe os lábios. Sorri torto.

Nesses trechos, não temos explicação. Temos ação. Temos imagem. Temos cinema.
O que evitar ao usar verbos nos roteiros
- Verbos genéricos: “fazer”, “ir”, “ver”, “ter”
- Verbos passivos: “está sendo”, “foi feito”, “estava acontecendo”
- Verbos emocionais abstratos: “sentir”, “pensar”, “achar”
Substitua por ações visíveis: Se o personagem sente medo, como isso se manifesta? Ele treme? Respira rápido? Encosta na parede?
Lembre-se: o roteiro é uma direção para a câmera. E a câmera só grava o que pode ser visto.
Exercícios práticos para escolher verbos fortes para roteiro
Exercício 1: Reescrevendo verbos fracos
Pegue frases com verbos genéricos e substitua por verbos fortes:
- Ela estava triste. → Ela encolhe no canto. Olhos vazios.
- Ele está bravo. → Ele soca a mesa. Ruge como um animal.
- João foi até a porta. → João atravessa a sala. Agarra a maçaneta.
Exercício 2: Descrevendo emoções com ações
Escolha uma emoção e descreva-a sem usar o nome da emoção. Use apenas ações visuais:
- Alegria
- Raiva
- Ansiedade
- Confiança
- Ciúmes
Exercício 3: Cena muda
Escreva uma cena curta (5 linhas) sem diálogo, apenas com verbos fortes que mostrem a mudança emocional de um personagem em uma situação intensa (exemplo: antes de um beijo, após uma traição, durante uma fuga).
Conclusão: verbos fortes para roteiro são sua arma secreta
Se você quer que seu roteiro seja lido com prazer, com clareza, com ritmo, então comece pelos verbos. Eles são o fio condutor da imagem, a ponte entre o que você imagina e o que o leitor vê.
Dominar o uso de verbos fortes para roteiro é uma das habilidades mais eficazes para se destacar como roteirista audiovisual. Não porque eles chamam a atenção por si só, mas porque desaparecem ao mostrar exatamente o que precisa ser visto. O verbo certo desaparece na imagem que ele cria. E isso é ouro.
Pratique. Reescreva. Leia roteiros profissionais. E toda vez que escrever uma linha de ação, se pergunte:
“Esse verbo cria uma imagem instantânea?”
Se sim, você está no caminho certo. Agora, vá lá e escreva cenas que possam ser filmadas. Seu roteiro agradece.
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